The Farewell e a possibilidade do adeus
Mesmo o homem tendo como única certeza a morte este assunto ainda é tido como um tabu. E talvez seja justamente por ser esta ser a nossa única certeza, que tudo em algum momento vai acabar, que nos distancie da ideia da morte, seja a nossa ou a do outro. E mesmo que não se pense ou fale sobre em algum momento ela virá. O encontro com o fim é a maior crise enfrentada pelo homem, o ser desejante que entre seus vários outros desejos também deseja a vida.
Mas se para alguns a morte traz temor e desespero, para outros é sinônimo de esperança, por exemplo quando há uma crença religiosa envolvida e há uma expectativa para o que pode vir do além vida. A ideia de um descanso eterno ou uma fuga sem volta.
O filme The Farewell me fez pensar em várias questões que envolvem o momento da morte, a expectativa da partida de um ente querido e as possibilidades de lidar com esse momento, e por mais que haja uma certeza de que ela virá, nós dificilmente estamos preparados para enfrentar.
The Farewell (2019), ou A Despedida, é uma comédia dramática que retrata uma família tentando lidar com o temor da possível perda da avó, diagnosticada com câncer terminal. A grande questão é que a família decide não contar a ela sobre o seu diagnóstico, e finge uma festa de casamento para que possam se despedir, mas sem o conhecimento dela do real motivo da reunião familiar. Ao longo do filme observamos como cada familiar, assim como nós, encaram a possibilidade do luto de maneiras diferentes, seja por questões culturais, de geração ou valores pessoais.
No filme temos alguns embates de culturas e gerações diferentes, como a neta, Billi (Awkwafina), que pela idade e o contato com uma cultura diferente tem ideais diferentes sobre a morte e como a família deveria lidar com a situação, desde a expressão de seus sentimentos até o fato de esconderem a doença da avó. Mas podemos pensar em como a morte tem um peso diferente para cada um, mesmo sem a diferença de geração ou cultura. A elaboração do luto é extremamente pessoal e íntimo, diferente para cada um. E mesmo considerando as conhecidas etapas do luto, cada um vive cada uma delas da sua maneira e em seu tempo.
De uma forma leve, e com uma carga dramática delicada mas muito real em vários momentos, o filme nos leva a pensar nas nossas despedidas e como lidamos com elas. Quão prontos nos sentimos para deixar alguém ir ou se tememos tanto uma perda que fugimos até mesmo da possibilidade imaginária.
