Solitude Constrói

Daniely Botega
2 min readAug 11, 2020
Cape Cod Morning — Edward Hopper (1950)

Nos definimos através das nossas ações, criamos quem somos nessa soma de escolhas livres cotidianas. Mas não estamos sozinhos nessa jornada, existem vários outros que encontramos no caminho. É através do outro e principalmente do seu olhar, que eu confirmo minha existência.

O outro me olha, me aprova, me julga e me acolhe. Buscamos ser reconhecidos e aceitos por esse outro desconhecido, pelos olhares anônimos. Fazer parte deste olhar é um desejo, ser aquele que olha junto do coletivo, me sentir parte de algo, e claro, também poder julgar. Suprir o vazio fica mais fácil quando é indicado por alguém, e também é mais fácil acreditar que é bom, pois foi aprovado pelo julgamento coletivo. Fazer parte do olhar e as escolhas mecânicas do coletivo ajudam a não sentir o vazio existencial.

Estar só divide opiniões e gostos, enquanto há os que se encontram prazerosamente em sua própria companhia, há quem se sinta atordoado apenas em imaginar a possibilidade de ficar sozinho, mesmo que seja por pouco tempo. Desde a busca por mais um corpo para dividir o espaço, até a necessidade de uma voz que não deixa o silêncio tomar conta, buscamos sempre alguma forma de não nos lembrarmos que estamos sozinhos. E acreditando ou não na máxima que diz que nascemos e morremos sozinhos, o homem é sim um ser social, e essa relação o auxilia no seu desenvolvimento pessoal. Mas estar em sua própria companhia também é um fator de desenvolvimento pessoal.

Ilustração por Manjit Thapp

Se nos constituímos através da nossa experiência, então como podemos nos construir se não nos afastamos do coletivo para construirmos os nossos próprios projetos. Como eu posso criar quem eu sou se não tenho um tempo sozinho, se não me aproprio das minhas experiências, contemplando meus atos partir do meu próprio olhar.

Até que ponto estou me escondendo neste grande outro coletivo, vivendo em um efeito manada, ou ainda um seu mestre mandou, em que não consigo aproveitar a mim mesmo sem que este olhar me aponte escolhas. Será que sou feliz com estas escolhas? ou alguém me disse que isso era felicidade e eu acreditei.

O coletivo nos ajuda a dar significado, e a questão não é a exclusão e apagamento social, mas se perguntar o que dá significado a minha vida? um desejo coletivo? Será que eu estou sendo capaz de bancar minhas angústias e desejos ou estou preso a um sentido dado a mim pelo outro. E será que este olhar exterior é suficientemente bom para mim ?

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