O indivíduo dentro da definição de saúde

Daniely Botega
3 min readMay 13, 2020
Athlets — Kazimir Malevich (1931)

Definir o que é saúde pode ser mais complexo do que parece, e podemos achar mais respostas do que imaginávamos. A OMS, por exemplo, define saúde como um estado de perfeito bem-estar físico, mental e social, não se limitando apenas a ausência de doença.

Usando a definição da Organização Mundial da Saúde podemos nos assustar com o termo “perfeito bem-estar”. O que seria o perfeito bem-estar? e mais do que isso, ele seria possível a todos? Encontrar uma definição coletiva para saúde é difícil e complexo. E se torna ainda mais quando pensamos na diversidade que existe dentro do coletivo.

Saúde realmente não pode ser vista apenas como ausência de doença. Devemos ir além e a contextualizar, tratando de maneira individual o que é questionado para se determinar um sujeito saudável ou não. É muito significativo que se faça uma avaliação singular, entendendo o significado que cada um dá para o que é saúde, qual é a sua relação com ela além das suas vulnerabilidades, e sempre relembrando o que o proporciona este estado de bem-estar. Até porque a avaliação geralmente é externa, o que dificulta a visão individual do seu próprio bem-estar e qualidade de vida. E como consequência pode gerar um exemplo idealista que é muitas vezes inalcançável.

Quando o olhar leva em consideração apenas a doença pode criar uma relação de poder sobre o outro e não a promoção de cuidado. Não mais proporcionando que o sujeito se veja e se cuide, e que assim crie uma relação de saúde consigo, mas impõe que sei mais do que ele sabe sobre si.

Um bom exemplo de padrão idealizado para saúde é quando falamos em saúde mental. Muitas vezes se busca uma cura, que se alcance uma perfeição para que então o sujeito deixe de ser “o doente” e possa ser aceito em uma sociedade dita normativa. Mas, será que não podemos buscar um bem-estar compatível com a vida deste indivíduo sem a imposição de um padrão social, e que possa ir de encontro com a sua singularidade, levando em conta sua autenticidade, contexto social, cultural, entre outros. Além disso, levar para o sujeito a pergunta “o que é saúde para você?” o coloca no lugar daquele que pode falar de si mesmo, e o ajuda a criar um objetivo mais próximo da sua realidade.

Para que se possa definir saúde é preciso pensar para quem eu estou fazendo esta definição. Para que então quando se for promover saúde essa possa ser a mais próxima da sua realidade, fugindo de uma inalcançável perfeição. Importante até quando falamos em saúde coletiva, pois alguns grupos apresentam determinadas singularidades que não podem ser comparadas a outros, seja por acessibilidade ou cultura por exemplo.

Ainda levando em consideração a definição de saúde proposta pela OMS, ali encontramos a saúde mental, física e social. E estas devem ser consideradas diretamente ligadas uma à outra. Desligar corpo e mente ou ainda não considerar onde o sujeito está inserido dificulta uma promoção eficaz de saúde e bem-estar, tornando o seu acesso muito mais custoso. Como acontece agora durante a pandemia do novo Corona Vírus, estar fisicamente saudável não significa estar mentalmente saudável, visto que muitas pessoas se encontram ansiosas ou angustiadas com a atual situação, e também a sua interação social está prejudicada. Ou seja, é necessário um reconhecimento do cuidado integral em saúde e então a disponibilização de recursos compatíveis para que se possa ter um acesso facilitado a ela.

Talvez haja mais do que uma necessidade de se definir o que é saúde, há uma necessidade de se estimular um pensar sobre, refletir sobre quanto esta definição pode afastar e aprisionar algumas pessoas. Mantendo alguns como eternos doentes incuráveis sem lugar social por conta de uma visão excludente.

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