Candy: paixão e desventura

Daniely Botega
3 min readAug 3, 2020
Candy (2006) Direção: Neil Armfield
Candy (2006) Direção: Neil Armfield

Candy (2006) é um filme que mostra o consumo de drogas além da já conhecida história que envolve tráfico e outros clichês da criminalidade. O filme usa como base de desenvolvimento o romance de Candy e Dan, vividos respectivamente por Abbie Cornish e Heath Ledger.

Um dos pontos interessantes deste filme é como ele mostra o desenvolvimento da relação do casal em paralelo com a droga. O filme é dividido em “paraíso- terra-inferno”, e ambos, casamento e vício, passam por estes três estágios. Ao início há o paraíso da paixão em que tudo é vivido intensamente com muita alegria e euforia. Só existe prazer e isso é tudo o que importa. Até mesmo uma quase overdose é descrita como linda.

Dan e Candy parecem se divertir com a vida que levam, dos pequenos roubos ao casamento simples. A companhia do outro basta para toda essa felicidade. A heroína é só a cereja do bolo que intensifica a experiência, e é chamada de “ a cola que os mantêm unidos”.

Com o tempo o casal cai em terra, e se iniciam os problemas reais, onde percebem que não se vive apenas de amor e heroína. Mas a cola que os mantém juntos ainda funciona, o triângulo amoroso ainda é funcional, e eles continuam tentando juntos enfrentar cada problema que aparece.

Conforme a história vai sendo contada, a relação de Candy e Dan entra em um ciclo, a droga alimenta a relação deles e a relação alimenta o consumo da droga.

Até o momento em que eles chegam ao inferno de ambas as relações. A função da droga começa a tomar um rumo diferente para cada um, eles se desencontram na forma com que querem viver tanto o casamento quanto o uso de heroína. As tentativas de retomar o prazer e a paixão do início são cada vez mais frustrantes. O casal não tem mais energia para investir nas duas relações, e o cotidiano de altos e baixos que não os abalavam agora os distancia cada vez mais.

Amor e droga que serviam perfeitamente para a fuga de si-mesmo parecem não serem mais tão divertidos como antes. As tentativas de recuperar a liberdade e autonomia acabam sendo impedidas pelo outro, que também quer retomar a sua posse. E de dois sujeitos reconhecidos pela liberdade um do outro, Dan e Candy acabam virando ventríloquos manipulados por ambas as relações.

Candy é um filme que trata não só do consumo de drogas e as possíveis catástrofes ocasionadas por ela, mas também fala sobre o prazer e a funcionalidade da droga. O uso de alguma substância pode ser vista como mais uma relação do sujeito, e assim como qualquer outra pode ter seus bons e maus momentos, e cobrar todos os custos de investimento que ele está disponível a bancar para continuar vivendo esta relação. A mistura de Romeo e Julieta com Trainspotting nos faz ver além de dois drogados, o que ajuda a acolher a história dos personagens. O filme nos faz lembrar da importância de trazer a presença destas pessoas para as suas vidas, para que também possam se ver além de um estigma e assim acolher a sua própria história, liberdade e autonomia.

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